As Mentiras Que Nos Contaram

As Mentiras Que Nos Contaram

Manteiga e bacon fazem mal? Gordura saturada causa doenças do coração? E se o meu colesterol estiver alto? Infelizmente, se você cresceu bebendo leite desnatado, comendo margarina e usando óleo de soja, milho, arroz e canola, sua saúde foi (e talvez ainda esteja sendo) muito prejudicada. Mas não foi culpa sua, e ainda há tempo de reverter os maus efeitos que isso tenha causado.

Nestes últimos sessenta anos, os meios de comunicação, alguns inadvertidamente, têm divulgado meias verdades sobre o que devemos comer ou não, se quisermos emagrecer, ou engordar, e ter mais energia, saúde e longevidade. 

O problema é que essas declarações e descobertas “definitivas” mudam a cada cinco anos. Seguimos as recomendações do médico, do nutricionista, do instrutor da academia, assumindo que eles certamente sabem mais do que nós, afinal, estudaram tanto, não é? E como continuamos muito gordos ou muito magros, doentes, cansados e estressados, pensamos que a culpa é nossa. Certamente eu devo estar fazendo algo errado, pois a ciência não pode estar errada.

Pois estava. Bem, não a ciência, mas a interpretação da ciência feita por pessoas inescrupulosas que colocam os  interesses políticos e financeiros acima da saúde e do bem-estar de milhões de pessoas. Mas agora sabemos que o problema não são as gorduras saturadas, e sim os alimentos processados, o excesso de carboidratos, o uso de gorduras hidrogenadas e óleos vegetais, e o excesso de açúcar – em várias formas – que é adicionado em quase  tudo.

Mas como essa confusão toda começou, e por que esses os cientistas, os nutricionistas, os empresários do ramo de alimentação e os políticos não chegam a um acordo, visando o bem-estar de todos nós? E os meios de comunicação, são inocentes nisso tudo? Eles apenas divulgam os estudos ou às vezes mudam ou exageram os resultados nos títulos das matérias, para vender mais edições e ganhar mais cliques? 

Meu objetivo neste website é mostrar os fatos, baseados na ciência atual, sobre vários assuntos controversos na área da nutrição e outros afins. Assim você terá mais condições de decidir se continua seguindo as diretrizes oficiais de alimentação que a maioria ainda segue, e que nos levou a essa epidemia mundial de obesidade, hipertensão, diabetes, doenças coronárias e autoimunes, ou se começará a ser mais crítico, aprendendo a reconhecer quando uma informação é verdadeira ou se ela está atendendo ao interesse das grandes corporações alimentícias e farmacêuticas.

Essa história confusa começou em 1954. O presidente Dwight Eisenhower, que sofreu o primeiro infarto em 1955, entrou para a história da medicina como um porta-voz da guerra ao colesterol. Ele sofreu seis outros ataques cardíacos, mas o fato de que ser presidente é muito estressante e de que ele fumava quatro maços de cigarro por dia foi ignorado. A culpa de tudo foi a gordura em sua dieta.

Nessa mesma época, o cientista Ancel Benjamin Keys, professor de fisiologia da Universidade de Minnesota, EUA, estava em uma convenção em Geneva, falando sobre a hipótese dele de que a gordura saturada causava doenças coronárias. Alguém na audiência o desafiou a provar aquela teoria, mas ele não tinha nenhuma evidência. Ele então coletou dados sobre mortes por doenças coronárias e consumo de gordura de 22 países. Ele escolheu seis países que confirmavam sua teoria, e deixou os outros países de fora. Publicou um estudo inicial em 1953, chamado de “Estudo dos Seis Países”, e um outro mais completo, em 1956, chamado de “Estudo dos Sete Países”.

Ancel Keys era um cientista respeitado, pois havia criado a Ração-K, usada para sustentar as tropas americanas durante a Segunda Guerra Mundial. Era uma caixa contendo, com algumas variações, biscoito sortido, barra de chocolate, suco de limão em pó, tabletes de açúcar, lata com carne de porco, goma de mascar, cigarros, fósforos e papel higiênico.  E sua pesquisa sobre a fome (do seu livro “The Biology of Human Starvation”, publicado em 1950), ainda é usada como referência padrão em estudos sobre a inanição e distúrbios alimentares, como a anorexia. Ele também introduziu a dieta Mediterrânea ao mundo, em 1975, com o livro ‘How to eat well and stay well the Mediterranean way”. Enfim, um cientista competente e prestigiado, mas que, talvez por ter sido desafiado pelos colegas em frente a uma grande audiência, sentiu-se compelido a omitir dados importantes de seu próprio estudo e a forjar os resultados finais a fim de provar sua teoria.

Assim como uma gota de veneno compromete um balde inteiro,
também a mentira, por menor que seja, estraga toda a nossa vida.  Mahatma Gandhi

O jornalista Gary Taubes, em seu livro “Boas calorias, más calorias”, publicado em 2007, escreveu que, quando todos os vinte e dois países foram incluídos na análise, a ligação aparente entre gordura e doença cardíaca desapareceu.

A pesquisadora Denise Minger analisou os dados dos estudos de Ancel Keys e concluiu que a evidência após a inclusão dos 22 países não desapareceu, apenas ficou enfraquecida.

Aqui estão duas das tabelas do primeiro estudo de Keys:

Mortalidade por Doença Cardiovascular e o consumo total de gorduras

Observe que Ancel Keys tinha dados de 22 países, mas escolheu os seis que mostravam alguma correlação entre consumo de gordura e doenças coronárias. Ele deixou de fora, por exemplo, países como a França, a Suíça, a Holanda, a Noruega e a Alemanha Oriental, que tinham dietas ricas em gorduras saturadas, porém índices baixos de doenças cardíacas.

O médico de Eisenhower era amigo do fisiologista Ancel Keys, e comentou com o presidente as pesquisas de Keys. O país começou a acreditar na “teoria lipídica” que associa a gordura saturada aos problemas cardíacos. Isso, infelizmente, influenciou as futuras pirâmides alimentares americanas, como você poderá ler no post Pirâmide às Avessas.

O Dr. Malcolm Kendrick, autor do livro “The Great Cholesterol Con” (O grande golpe do colesterol – tradução livre), publicado em 2007, criou uma tabela, baseada em estudos da British Health Foundation,  realizados com mais de um milhão de pessoas, mostrando a correlação entre o consumo de gordura saturada e mortes por doenças cardíacas em homens com menos de 65 anos de idade.

Um Jogo de adivinhação

Percebemos claramente que a ingestão de gordura saturada não tem nenhuma relação com a taxa de mortes por doenças coronárias em qualquer país da Europa. Na verdade, em geral, a associação é completamente inversa, ou seja, quanto mais gordura saturada você comer, menor a taxa de doença coronariana.

Nina Teicholz, no livro “Gordura sem Medo”, documenta 60 anos de aconselhamento nutricional baseado em baixo teor de gordura, e o desastre que isso causou a nossa saúde. Ela apresenta evidências de que uma dieta com alto teor de gordura pode ser saudável e benéfica, principalmente quando se trata de perda de peso, níveis de colesterol, redução da inflamação, saúde do coração e prevenção do diabetes. Ela defende uma dieta rica em gorduras saudáveis, como as encontradas em nozes, abacates, azeite de oliva, sementes e peixes gordurosos.

Você pode também ler este curto artigo que cita um estudo que concluiu que a maior parte dos infartados possui colesterol considerado normal. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd2101200901.htm

Muitas pessoas comem muita gordura saturada e carnes vermelhas e têm excelentes números em todos os exames de laboratório, não apenas de colesterol, HDL e triglicerídeos. Muitas também fizeram um teste chamado angiotomografia, que detecta placas de gordura nas artérias e é usado para prevenir infartos, assim como o teste de escore de cálcio coronariano e os resultados foram ótimos. Esses bons resultados ocorrem, em parte, porque essas pessoas não fumam, fazem exercícios e evitam alimentos processados e fast foods.

Está bem, então o que me contaram sobre a gordura não era verdade, e comer carnes gordas e vários ovos por dia não vai aumentar o colesterol no meu sangue ou fazer aparecer placas nas minhas artérias? Basta eu não fumar e fazer algum tipo de exercício? Mas ter colesterol alto não é ruim? E as estatinas, elas ajudam a baixar o colesterol ou na verdade elas prejudicam nossa saúde ainda mais? Aguarde, nós vamos conversar bastante sobre isso e muito mais, nos próximos posts.

Viva extraordinariamente!

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